Aeroporto
Desafio proposto por: Ana Carolina Marinho - https://www.linkedin.com/in/anacarolinamarinho21/
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O desafio consistiu em identificar com precisão a localização de uma fotografia da janela de um avião ainda na pista de algum aeroporto no Brasil. Decolando? Pousando? Vamos descobrir...
Começamos apenas por uma foto e a data de registro, 07/03/2025:
A imagem é bastante simples, mas tem vários elementos que podemos usar ao nosso favor, mas antes de mais nada, alguns fatos importantes e relevantes:
Somente com essa informação, temos agora 134 possibilidades.
Analisando os elementos presentes na imagem, temos:
Um avião de turbina com o motor na cor azul.
Terreno plano com poucas vegetações (rasteira e homogênea).
Clima nublado, aparentemente chuvoso e compatível com período da tarde. Utilizando o site suncalc.org, especificamente no dia 7 de março de 2025, podemos observar o pico máximo de sol às 11:43, e o por do sol às 17:50, para boa parte do Brasil:
Como ainda não estava escuro, podemos estimar o horário entre 15:00 e 17:00 aproximadamente.
Bem ao fundo, do lado superior direito, temos uma estrutura que se parece com uma cúpula:
E por fim, uma informação bastante importante...
"Água a vista", rs... Podemos observar o que parece ser um rio ou mar no horizonte.
Quantos aeroportos possuem corpos d’água tão evidentes em suas imediações?
Poderíamos talvez direcionar a pesquisa para cidades litorâneas, com aeroportos mais movimentados, mas limitar o raio de busca assim, sem uma evidência clara, pode ser precipitado e nos levar à um rabbit hole.
A realidade é que uma investigação real teria muito mais detalhes do que apenas uma foto, saberíamos ao menos algumas características do indivíduo, além da motivação por trás da pesquisa.
Consegue perceber o que está faltando nessa análise? Pense por um minuto, observamos e apontamos o que vimos na foto, o que não fizemos ainda?
Antes de seguir em frente, é sempre importante observar elementos que FALTAM na imagem.
O que não temos?
Sol e sombra.
Prédios/casas (mas pode ser que estejam fora do ângulo de visão/foto).
Montanhas.
Se levarmos em consideração a umidade na janela, e que de fato choveu mas a pista não parece estar molhada, podemos ter dois cenários basicamente:
1) Pode ter chovido pouco (garoa), ou, 2) O avião estava tomando uma ducha 😂.
Vamos com a primeira possibilidade e levar em consideração que podemos estar olhando para alguma geografia com clima quente nessa época do ano, então mesmo que chova, a água evapora rapidamente.
Antes de pesquisar onde choveu no dia 5 de março, vamos tentar delimitar essa pesquisa com uma outra informação que pode afunilar um pouco mais as 134 possibilidades inicialmente levantadas. De qual aeronave e cia aérea estamos falando?
Pesquisando sobre a frota da Azul:
Podemos descartar os modelos ATR-72, pois são aviões de propulsão turboélice, e também os modelos A330, pois sabemos que se trata de uma rota nacional. Agora, temos:
Embraer E-Jets: E195AR e E195-E2, que têm sistemas idênticos, diferindo apenas no comprimento da fuselagem e capacidade de passageiros.
Airbus: A320N, A320Neo e A321Neo.
Não dá para identificar o winglet (ponta da asa) da aeronave, mas pelo tamanho da pista e da turbina, talvez seja um Embraer 195 E2, muito comum em rotas regionais da Azul, operando em aeroportos de médio porte, mas não é possível afirmar somente com essa informação. De acordo com o flightradar, há 42 aeronaves Embraer modelo E195AR e 32 modelo E195-E2, para os modelos Airbus, estão em operação 51 aeronaves A320N e apenas 6 A321.
Para o dia 7 de março temos o seguinte quantitativo de vôos da Azul:
Em operação às 15h = 74 vôos.
Adicionando um filtro para os tipos de aeronaves que fazem parte da frota da Azul (Airbus e Embraer), temos agora 50 opções dentro desse horário.
Como estamos tentando localizar um voo que pousou entre 15h e 17h do horário de Brasília aproximadamente, ou seja, ainda precisaríamos ter cuidado com relação as 4 variações de fuso possíveis no Brasil.
Podemos adicionar filtros de velocidade (ground speed) para uma velocidade menor de taxeamento. O KTS é usado para medir a velocidade do ar em relação ao solo e a velocidade do vento. Considerando que, a velocidade de cruzeiro de um avião comercial é normalmente de cerca de 500 KTS, e a velocidade de pouso é normalmente de cerca de 150 KTS, vamos utilizar a faixa conservadora entre 0 e 350 KTS, para tentar identificar a desaceleração indicativa de pouso.
Devido horários diversos de pouso por conta de atrasos e várias outras variáveis, é arriscado determinar um intervalo maior que 5 ou 10min de busca, mas temos agora em rota de decolagem ou pouso, um quantitativo possivelmente reduzido de aeronaves:
15h: 9 vôos.
Agora é um bom momento para podermos reavaliar as informações inicialmente coletadas e ver se estamos "na rota certa" (ba, dum, tss).
No Brasil, o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) tem registros oficiais de condições climáticas em aeroportos e outras localidades, vamos tentar fazer um filtro pelas capitais, considerando chuva fraca. Por sorte, todos os dados foram coletados até as 15h, bem próximo do que estamos considerando. Em meteorologia, costuma-se considerar chuva fraca (ou garoa/chuva leve) quando o total não ultrapassa cerca de 5 mm no período analisado. Logo, todas as capitais que apresentaram valores entre 1 mm e 5 mm podem ser classificadas como tendo tido chuva leve ou garoa:
Desta forma, temos:
1 - Aracaju 2 - Campo Grande 3 - Cuiabá 4 - Florianópolis 5 - Maceió 6 - Palmas 7 - Salvador 8 - Vitória
Esses são os respectivos aeroportos:
Aracaju (AJU – Aeroporto de Aracaju – Santa Maria)
Campo Grande (CGR – Aeroporto Internacional de Campo Grande)
Cuiabá (CGB – Aeroporto Internacional Marechal Rondon)
Florianópolis (FLN – Aeroporto Internacional Hercílio Luz)
Maceió (MCZ – Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares)
Palmas (PMW – Aeroporto de Palmas – Brigadeiro Lysias Rodrigues)
Salvador (SSA – Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães)
Vitória (VIX – Aeroporto Eurico de Aguiar Salles)
Quais destes aeroportos tem as características que encontramos até o momento?
Revisando:
Pelas marcas da pista única, parece uma interseção de taxiway com a pista principal com luzes de borda azuis. O asfalto da pista parece em bom estado, e a pista é relativamente larga indicando ser um aeroporto que recebe jatos (não apenas aviões pequenos).
Podemos usar o Google Maps para comparar o layout de taxiways com a imagem.
O horizonte é bem plano, com vegetação rasteira e uma faixa de árvores relativamente homogênea ao fundo, não se enxergam montanhas nem prédios urbanos altos, mas pode ser que estejam atrás da aeronave, fora do campo de visão.
Regiões do Norte e do Centro-Oeste costumam apresentar esse tipo de paisagem, diferente dos ambientes mais urbanos e montanhosos que se encontram, por exemplo, em alguns trechos do Sudeste ou Sul.
Poucos aeroportos possuem, de fato, massas d’água tão evidentes próximas às pistas.
Estrutura em forma de cúpula à direita da imagem foi identificada como um possível radar.
Com isso, já podemos excluir algumas possibilidades:
Salvador (SSA – Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães): possui duas pistas.
Correlacionando os aeroportos acima com os voos operados pela Azul no dia 7 de março, entre 15h e 17h, agora temos apenas 3 opções nas regiões mapeadas, pois já excluímos SSA:
Aracaju (AJU – Aeroporto de Aracaju – Santa Maria)
Campo Grande (CGR – Aeroporto Internacional de Campo Grande)
Cuiabá (CGB – Aeroporto Internacional Marechal Rondon)
Florianópolis (FLN – Aeroporto Internacional Hercílio Luz)
Maceió (MCZ – Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares)
Palmas (PMW – Aeroporto de Palmas – Brigadeiro Lysias Rodrigues)
Salvador (SSA – Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães)
Vitória (VIX – Aeroporto Eurico de Aguiar Salles)
Análises Finais:
1) Cuiabá (CGB – Aeroporto Internacional Marechal Rondon): apesar de ter o rio Cuiabá próximo, há prédios e casas a vista, e os indicadores da pista são diferentes:
2) Maceió (MCZ – Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares): o terreno é diferente, há casas e não fica próximo de nenhum rio ou lago que se assemelhe a imagem fonte do desafio:
3) Palmas (PMW – Aeroporto de Palmas – Brigadeiro Lysias Rodrigues): sobrou apenas uma opção, será que está correto?
Conforme dito no início da investigação de elementos visuais na foto, na ampliação, nota-se uma estrutura à direita com uma cúpula esférica, característica de um radar meteorológico ou de controle. Esse tipo de instalação costuma estar presente em aeroportos que operam com sistemas de navegação modernos, mesmo que não seja tão divulgado.
Infraestrutura do Aeroporto de Palmas
Palmas tem um aeroporto com pista única, compatível com as operações descritas.
A região ao redor do aeroporto de Palmas possui características de áreas abertas e, em alguns ângulos, é possível visualizar corpos d’água – seja por reservatórios ou pela proximidade de cursos d’água que compõem a paisagem do Rio Tocantins.
A presença de um radar (ou instalação similar com cúpula) pode ser vista de determinados pontos da pista, corroborando a estrutura identificada na imagem.
Repare agora na distância entre a cúpula e a última curva da pista para a esquerda:
Detalhamentos finais:
Aircraft type (A20N) - Airbus A320-253N Registration: PR-YRV Serial Number: 08679 Age (Dec 2018): 6 years
Voo: AD2806 Origem: Campinas - VCP, decolagem às 14:47. Destino: Palmas - PMW, pouso às 16:45.
Desafio extra: qual o assento??
Para referência, alguns valores aproximados:
Comprimento total do A320neo: ~37,57 m
Distância do nariz à raiz da asa: ~11 m
Envergadura da asa: ~35,8 m (mas, para nós, o mais importante é a corda da asa, isto é, a distância entre o bordo de ataque e o bordo de fuga)
Corda média da asa (chord): ~5,6 m
Diâmetro externo do motor (PW1100G): ~2,05 m
Distância do centro da fuselagem até o centro do motor: ~4–5 m (dependendo da inclinação do pilone)
Largura interna da cabine: ~3,70 m
Seat pitch (passo entre fileiras) na classe econômica: ~0,74 m a 0,79 m (30–31 polegadas), dependendo da configuração da companhia.
A Azul costuma configurar seus A320neo com cerca de 170+ assentos em classe única, indo aproximadamente até a fileira 30
O motor aparece bem destacado no canto inferior direito, sugerindo que a nossa querida amiga Ana estava próxima ou um pouco atrás do bordo de ataque (leading edge) da asa. Se estivesse muito à frente da asa, o motor estaria mais “lateral” ou parcialmente encoberto pela fuselagem. Se estivesse muito atrás, veríamos mais a parte superior da asa e menos o motor.
O ângulo inclinado, mostrando boa parte do topo da nacele (a carcaça que cobre o motor), costuma ocorrer em assentos logo atrás do ponto em que a asa se une à fuselagem (entre a região do overwing exit e algumas fileiras depois).
Portanto, de forma geral, no A320, as janelas que dão visão clara do motor ficam entre as fileiras 12 e 17, dependendo da configuração. Como o motor está parcialmente “abaixo” da linha de visão, isso indica possivelmente que a Ana está ligeiramente à frente ou no meio da corda da asa.
Em muitos A320, o bordo de ataque da asa começa perto da fileira 10–11, e o bordo de fuga fica próximo à fileira 20–21. As saídas de emergência sobre a asa costumam estar em torno da fileira 12 ou 13 (dependendo da configuração da companhia).
Cada fileira adicional recua cerca de 0,75–0,80 m no sentido longitudinal da fuselagem. Se a foto indica que estamos pouco atrás do bordo de ataque, mas não tão longe do motor, é plausível que o assento fique entre 2 a 5 fileiras atrás da saída de emergência (caso a saída seja a 12/13). Isso nos coloca na faixa aproximada das fileiras 14 a 17, lado direito (F).
"O Brasil possui o segundo maior número de aeroportos no mundo, com 2.717 terminais. Destes, cerca de 2 mil são particulares e apenas 134 têm voos regulares". .
Uma pista única de taxi/taxiway (repare nas linhas brancas tracejadas, a curva para a esquerda com uma linha amarela, os sinais luminosos azuis, etc.). "As taxiways são faixas da pista que permitem o piloto taxiar a aeronave para o hangar, um terminal ou mesmo para a pista de pouso e decolagem. Essa área conta com um sistema de luzes específico, cujas lâmpadas têm cores específicas para indicar a sinalização. Nas laterais, as luzes são azuis indicando o limite lateral da pista. Em aeródromos e aeroportos, sempre as taxiways contam com essas luzes laterais. Em aeroportos maiores, as taxiways também possuem luzes verdes na área central auxiliando a orientação do piloto..." Essa mesma iluminação é utilizada tanto quando uma aeronave está taxiando após o pouso quanto quando está taxiando em direção à pista para decolagem. Porém, devido a curva para a esquerda seguindo a linha amarela e se afastando do final da pista, isso geralmente indica que ela já pousou e está se dirigindo ao pátio ou portão. Essa interpretação está alinhada com as práticas operacionais descritas na seção 2-3 do AIM da FAA (Fonte 2 acima).
"Sua frota doméstica e regional é formada por aeronaves , , e . Utiliza ainda os e nas rotas intercontinentais." .
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